Visitar todas as regiões atingidas pela Vale foi uma das promessas do procurador-geral
O Dr. Jarbas Soares, procurador-geral de Justiça do Estado de Minas Gerais, participou de conversa em espaço localizado na comunidade de Vista Alegre, e visitou a comunidade de Padre João, ambas no município de Esmeraldas, no dia 7 de junho. Acompanhado da Dra. Shirley Machado e do Dr. Paulo César, ambos da CIMOS/MPMG, Jarbas conheceu um pouco da realidade da comunidade, que foi atingida pelo desastre-crime da Vale, e ouviu manifestações de pessoas atingidas das cinco regiões clamando por justiça e participação no processo de reparação.
A atividade foi organizada pelo Nacab e pelo Insea, que atuam como Assessoria Técnica Independente (ATI) na Região 3, e contou com o apoio do Instituto Guaicuy e da Aedas, bem como do mandato da deputada estadual Leninha (PT), que também acompanhou a reunião. O Guaicuy disponibilizou transporte a representantes das Comissões das Regiões 4 e 5 para que pudessem participar do evento, conversar com os representantes das Instituições de Justiça e também com membros de outras Comissões da Bacia do Paraopeba.
Pessoas atingidas de todas as cinco regiões do Paraopeba, Represa de Três Marias e Rio São Francisco puderam dirigir a palavra aos representantes do Ministério Público. Pela Região 4, falou Tatiane Menezes, do Assentamento Queima Fogo. Ela reforçou a importância de que o procurador-geral visite também as demais regiões atingidas. “Temos todo tipo de direito não respeitado. A gente não pede socorro, a gente grita por socorro”, afirmou.
Pela Região 5, falou João Rodrigues, da comunidade Lago dos Cisnes. “Ser pescador é o último serviço que a gente tem, e tem gente recusando nosso peixe. A gente cobrou um exame do peixe, se pode comer, se pode vender. Até hoje, esse exame não saiu”, criticou.
Intervenção do procurador-geral
O procurador-geral do estado de Minas Gerais, Jarbas Soares, dirigiu a palavra às pessoas atingidas após ouvir todas as intervenções. Ele se comprometeu a visitar as demais regiões atingidas pelo desastre-crime da Vale.
“Não há dúvida alguma da gravidade de tudo que foi feito. Sempre falo nas reuniões nos altos escalões que ninguém estaria lá reivindicando se não tivesse acontecido nada. […] Não pode ter uma diretoria na zona sul do Rio de Janeiro e um restaurante abaixo da montanha de minérios. É inaceitável isso, é incompatível isso. Se notou o descaso mesmo com o ser humano, com os funcionários da própria Vale”, criticou.
Jarbas Soares contextualizou brevemente a assinatura do Acordo com a Vale, em fevereiro de 2021, defendendo a celebração do Acordo, considerando que a outra alternativa seria aguardar por tempo indeterminado o desfecho do processo judicial. Comparou o processo com o da reparação das pessoas atingidas pela Samarco no Rio Doce. Defendeu o direito das pessoas atingidas à Assessoria Técnica Independente e reforçou o compromisso do MPMG em defender o processo coletivo de resolução dos danos individuais.
Diante das denúncias trazidas, pediu às pessoas que encaminhassem a ele um documento com os pontos do Acordo que não estão sendo cumpridos, sobretudo pela Vale. “A minha ideia é designar um promotor de justiça para cuidar só das obrigações descumpridas”, afirmou. “Nós não vamos questionar mais do que foi acordado, mas a empresa tem que cumprir sua parte”, completou.
Ouça abaixo a fala completa de Jarbas Soares:
Após a fala do procurador-geral, também intervieram Paulo César Vicente, coordenador-geral da Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Sociais (Cimos) do MPMG, e Shirley Machado, promotora de justiça do Estado de Minas Gerais.
Exposição de fotos e filme
Durante o evento, as ATIs Nacab e Guaicuy expuseram em uma sala uma série de fotos que retrata a vida e a luta das pessoas atingidas pelo desastre-crime da Vale. Após os debates, também foi exibido aos presentes o docudrama Água Rasa, uma produção conjunta entre as duas assessorias, que retrata um pescador do rio Paraopeba.