Nesta terça-feira (25), o Fórum Mineiro dos Comitês de Bacias Hidrográficas (FMCBH) realizou a live ‘Três anos do crime ambiental de Brumadinho’, por meio do canal oficial do CBH Rio das Velhas no Youtube. O evento fez parte das homenagens às vítimas e de reflexões sobre os três anos do rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho, e contou com a presença de especialistas que atuam com processos relacionados aos danos causados a Minas Gerais.
A live destacou-se pela contundência nas falas sobre o rompimento e por chamar a atenção sobre os aspectos humanos que envolvem o rompimento ao longo do tempo. O rompimento-crime que deixou 272 pessoas mortas e afetou a vida de milhares de outras permanece causando incertezas ambientais e crise econômica ao longo da calha do Rio Paraopeba.
O encontro contou com a mediação do presidente do CBH Afluentes Mineiros dos Rios Pretos e Paraibuna e Coordenador do FMCBH, Wilson Acácio, além das participações do Diretor do Instituto Guaicuy, Coordenador do Projeto Manuelzão e Vice-presidente do CBH do Rio São Francisco, Marcus Vinícius Polignano, da Coordenadora de equipe de direitos do Instituto Guaicuy, Paula Constante, do professor do Departamento de Engenharia de Produção e Mecânica da Universidade Federal de Juiz de Fora, Bruno Milanez, e da atingida da comunidade de Cachoeira do Choro, em Curvelo, Eunice Ferreira Godinho.
Um crime que continua
Wilson Acácio abriu a live pedindo um minuto de silêncio pelas vítimas e destacando a necessidade de discutir sobre o caráter criminoso do rompimento: “Às vezes se fala em desastre, acidente, mas a verdade é que o rompimento foi um crime. A diretoria da Vale sabia que estava com risco e não tomou nenhuma providência. Se é crime, essas pessoas que comprometeram a vida precisam estar na na cadeia e ninguém foi preso!”, manifestou o coordenador do FMCBH.
Os participantes chamaram atenção para tragédias anunciadas, como o rompimento de Fundão, em Mariana, e para a repetição do desastre em Brumadinho, sem ações concretas para responsabilizar os culpados e para impedir que outras barragens rompam.
O Instituto Guaicuy participou do evento com grandes contribuições sobre o que significa o dia 25 de janeiro e sobre o crime continuado. Em sua fala, Paula Constante, que coordena a equipe de direitos das pessoas atingidas, destacou que os três anos são momentos de luto pela perda das pessoas e dos sonhos e projetos de vidas. “Após três anos, o crime continua ocorrendo e o direito das pessoas atingidas, de uma forma geral, tem se esbarrado nas inúmeras dificuldades ou no próprio não cumprimento da Vale em relação aos diversos direitos. […] É necessário que a gente humanize e respeite o direito das pessoas atingidas que estão diariamente lutando e sobrevivendo com as perdas, sejam materiais ou de seus entes queridos”.
A live foi finalizada com a participação do diretor Marcus Vinícius Polignano que refletiu sobre a dor causada pelo rompimento que não é contemplada em todo o processo de reparação e pelo processo penal: “Voltar a Brumadinho é uma dor. […] Eu fico impressionado com o rompimento, que em termos cronológicos, durou menos de dois ou três minutos, mas que destruiu vidas não só das pessoas que morreram, mas as vidas das pessoas que sobreviveram. É muita dor e isso não entra no processo, não entra no coração dos governantes. Eu queria que quem estivesse aqui nos ouvindo fossem os compromitentes, o judiciário, os governantes, que deveriam, na verdade, estar do lado das vítimas e dos atingidos. E dizer que essa dor e esse sofrimento só se aplacam com o bálsamo que é a reparação, a solução para ontem, as ações para que outros rompimentos não aconteçam”, concluiu Polignano.
Venha participar dessa importante construção de diálogos. Você pode assistir a live o canal do CBH clicando aqui!
Confira também o manifesto dos três anos e as cartas dos atingidos ao longo da Bacia do Paraopeba e da região do Lago de Três Marias publicados pelo Guaicuy.