No mês de outubro de 2022, o Guaicuy divulgou o último levantamento sobre a conclusão de algumas das pesquisas das perícias judiciais, realizadas pelo CTC (Comitê Técnico Científico) da UFMG. Veja agora um resumo dos resultados de seis dos subprojetos para saber mais informações dos territórios após o repasse das Instituições de Justiça.
Ao todo foram seis pesquisas relacionadas ao tema Meio Ambiente: subprojetos 05, 08, 10+13, 14 e 16. Foram 67 subprojetos estabelecidos pelo Juiz, dos quais 15 já tiveram suas pesquisas finalizadas pelo CTC/UFMG e publicadas nos autos dos processos judiciais.
É importante lembrar que o Comitê Técnico Científico é o órgão responsável pelas perícias judiciais. Em cada nova leva de publicação são apresentados os resultados científicos e independentes, que poderão apoiar as decisões do juiz no processo de reparação dos prejuízos causados às comunidades atingidas.
Veja aqui os resultados divulgados em outubro de 2022.
Confira a seguir cada um deles e seus principais resultados:
Subprojeto 05: Coleta de Amostras de Animais da Fauna na Bacia do Rio Paraopeba para Análise Toxicológica
O subprojeto 05 elaborou um plano amostral com base na coleta e captura de animais selvagens utilizados como indicadores ambientais da fauna da bacia do rio Paraopeba para realização de análises toxicológicas. Para isso, foram capturados 381 animais, como pássaros, sapos, lagartos, morcegos e outros animais terrestres.
Esses animais foram utilizados para levantamento de amostras biológicas como: pelos, penas, fezes, urina, sangue e soro. A captura ocorreu em cinco localidades entre os municípios de Brumadinho e Pompéu, não incluindo municípios da Região 5.
Como o objetivo do subprojeto se restringiu ao levantamento de amostras biológicas, os resultados foram concluídos com a realização das coletas e as análises estão sendo executadas por outros subprojetos (ainda não publicados).
Subprojeto 08 – Coleta de Amostras de Solos e Rejeitos na Sb-bacia do Ribeirão Ferro-Carvão, Brumadinho, MG
Este subprojeto coletou amostras de solos e rejeitos na bacia do rio Paraopeba em pontos localizados na sub-bacia do Ribeirão Ferro-Carvão, em Brumadinho.
No total, foram coletadas 498 amostras em diferentes camadas dos solos e dos rejeitos, em 214 pontos diferentes, que foram definidos pelos pesquisadores, considerando coletas em toda a planície do ribeirão Ferro-Carvão e em diferentes profundidades dos solos e dos rejeitos, que entulharam a paisagem devido ao rompimento.
É importante reforçar que para a escolha dos pontos de coleta os pesquisadores observaram as áreas de espalhamento (139 pontos), ou seja, áreas com solos que foram cobertos pelos rejeitos, além dos pontos dentro das barragens de rejeito (75 pontos).
Os resultados deste subprojeto foram concluídos com a finalização das coletas, pois o objetivo foi especificamente o levantamento das amostras de rejeitos e solos na região 1, sendo as análises direcionadas ao subprojeto 62 (ainda não publicado).
Subprojeto 10+13 – Coleta de Água Subterrânea + Análise de Microrganismos Termotolerantes e E. coli em Água Subterrânea
O subprojeto 10+13 coletou amostras de água subterrânea da bacia do rio Paraopeba para a determinações de microrganismos termotolerantes, Escherichia coli, metais e metalóides. Para isso foram levantadas 76 amostras de águas subterrâneas coletadas ao longo do rio até uma distância máxima de 1000 metros da calha entre os municípios de Brumadinho e Felixlândia.
Os resultados mostraram uma grande variação nos valores dos parâmetros físico-químicos como pH, condutividade, sólidos totais dissolvidos e turbidez, o que pode estar relacionado às características dos aquíferos e aos diferentes usos da terra no trecho estudado.
Dentre os parâmetros citados, apenas a turbidez (uma em cada três amostras) apresentou valores acima dos padrões de potabilidade para águas destinadas ao consumo humano de acordo com a norma do Ministério da Saúde (PC n°888/2021). Com relação às análises microbiológicas, verificou-se que um número significativo de poços e cisternas apresentou contaminação por coliformes totais e E. coli (26,4%) ou apenas por coliformes totais (45,8%). Isso quer dizer que esses resultados indicam que em grande parte das amostras ocorreram contaminações por presença de organismos microbiológicos.
Nesse sentido, a UFMG reforça a necessidade de desinfecção das águas, para que sejam utilizadas para consumo humano, e de um monitoramento para avaliação da eficácia do tratamento. Tais recomendações evidenciam a necessidade de continuidade das análises e da execução de medidas para tratamento das águas na bacia do rio Paraopeba e territórios ao longo do reservatório de Três Marias, o que inclui a região 5.
Subprojeto 14 – Análise de compostos orgânicos em água subterrânea.
O subprojeto 14 identificou compostos orgânicos em amostras de água subterrânea coletadas ao longo do rio Paraopeba até uma distância máxima de 1000 metros da calha, no trecho entre os municípios de Brumadinho e Felixlândia.
Na região 4 foram realizadas nove coletas, e na região 5 não foram feitos levantamentos por problemas técnicos identificados nos pontos indicados para retirar as amostras.
Os resultados mostraram que 63,5% das amostras analisadas (33 pontos dentre os 52 avaliados) apresentaram violações aos limites legais estabelecidos pela Resolução CONAMA 396/2008 para águas subterrâneas destinadas ao consumo humano. Nelas também foram identificadas 145 substâncias que não estão previstas pela lei, mas que são nocivas à saúde humana e ao meio ambiente.
Dentre as substâncias que violaram os limites legais destacam-se agrotóxicos da família dos endosulfans, o hidrocarbonetos alifáticos clorados, o benzeno + seus derivados clorados, e o etilbenzeno + xilenos + estireno. Todas essas substâncias apresentaram um padrão de ocorrência de pontos avaliados, indicando que as fontes de contaminação podem ter a mesma origem, ou seja, que surgem de atividades humanas industriais e agrícolas com o uso de agrotóxicos.
De acordo com a pesquisa, devido aos riscos de toxicidade nos poços e cisternas onde foram identificadas violações, a UFMG recomenda que as instruções do IGAM de não usar a água sejam seguidas. Além disso, reforça que para uma avaliação aprofundada mais poços e cisternas devem ser analisados, e em mais municípios, a partir de um monitoramento periódico das águas subterrâneas, com apoio dos órgãos de saúde.
Tais recomendações evidenciam a necessidade de continuidade das análises e da execução de medidas para tratamento das águas na bacia do rio Paraopeba e territórios ao longo do reservatório de Três Marias, incluindo necessariamente o levantamento de amostras na região 5.
Subprojeto 16 – Análise de Metais e Metalóides em Água Subterrânea
O subprojeto 16 analisou metais e metalóides em amostras de água subterrânea coletadas pelo subprojeto 10+13 ao longo do rio Paraopeba, até uma distância máxima de 1000 metros da calha, no trecho entre os municípios de Brumadinho a Felixlândia.
Os resultados indicaram que as concentrações de alumínio, ferro e manganês foram as que mais estiveram acima dos limites legais para consumo humano e dessedentação animal, estabelecidos pela Resolução CONAMA 396/2008. Para zinco, chumbo e urânio foram registradas violações isoladas, que podem estar relacionadas as fontes naturais (como as características dos aquíferos) ou a atividades humanas (rejeitos de mineração, resíduos industriais, uso de agrotóxicos).
Neste subprojeto, a UFMG reforçou a necessidade de desinfecção das águas (filtragem, cloração, etc), para que possam ser utilizadas para consumo humano e dessedentação animal, além do monitoramento periódico dos poços e cisternas, com apoio dos órgãos de saúde.
Os resultados reforçam também a necessidade de continuidade das análises e da execução de medidas para tratamento das águas na bacia do rio Paraopeba e territórios próximos ao reservatório de Três Marias, o que inclui a região 5.
Próximos passos na pesquisa CTC sobre os danos
Nas próximas semanas o Instituto Guaicuy deverá publicar as análises com um resumo dos resultados dos subprojetos relacionados às áreas de Saúde e Socioeconomia.
Outras pesquisas dos temas Meio Ambiente, Saúde e Socioeconomia ainda estão sendo realizadas pela UFMG ou avaliadas pelo juízo. Conforme os subprojetos forem sendo liberados para o Instituto Guaicuy, faremos as análises e comunicação dos seus resultados para a população atingida pelo rompimento da barragem da Vale.
Para saber mais, acesse:
Quem é quem no processo de reparação: https://backup.guaicuy.org.br/quem_e_quem_no_processo_de_reparacao/
Subprojetos executados pela UFMG: http://www.projetobrumadinho.ufmg.br