As feiras livres são um importante instrumento de manifestação da cultura popular. Por serem realizadas em locais públicos, as feiras são mais do que espaços de comércio: são também espaços de democracia, de participação e expressão da organização social, proporcionando integração, fortalecimento de vínculos comunitários, lazer e saúde.
Foi assim em Vau das Flores. Uma comunidade alegre e festeira de Morada Nova de Minas que teve um novo ânimo para movimentar os moradores após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho e da pandemia de Covid-19.
A Saúde em Vau das Flores de forma mais ampla
A partir dos acolhimentos individuais e coletivos realizados pelo Instituto Guaicuy na comunidade, foi possível observar o surgimento e agravos de sofrimentos psicossociais e na saúde mental das pessoas atingidas. Para refazer e recontar sua história, apesar dos danos causados pelo rompimento, a comunidade se organizou e, com auxílio do Instituto Guaicuy e importantes parceiros, concretizou a feira “Flor que Nasce em Beira d’Água” na charmosa pracinha ao centro do povoado. A Feira, nesse sentido, também cumpre o papel de trazer de volta a alegria do encontro ao lugar.
Gabriela Luanda, psicóloga da equipe de Saúde e Assistência Social do Guaicuy, entende que saúde é algo que mobiliza as pessoas a saírem de casa e a se cuidarerm. “As próprias lideranças apresentaram uma concepção de saúde mais ampliada e a demanda por um espaço que reunisse as pessoas, produtos e artesanatos locais, conversas sobre saúde e lazer e orientações no âmbito dos direitos sociais e da cidadania.”, conta a psicóloga.
Nilceia Ferreira de Souza, moradora de Vau e ativa no que diz respeito ao processo de reparação de mobilização da comunidade, conta que o intuito é reunir ainda mais pessoas do povoado. “Resolvemos fazer uma feira, colocar as coisas de interesse do povo e trazer todo mundo pra praça. A feira foi muito boa, as pessoas ficaram felizes e já estão pensando em realizar a próxima feira”, afirmou. Também participaram pessoas das comunidades de Cacimbas, Frei Orlando e da sede de Morada Nova de Minas.
Carlos Gimenez, Coordenador de Campo da área 5 oeste no Instituto Guaicuy, avalia que é a partir “da organização coletiva que se alcança melhor os frutos e por isso também foi ótimo termos uma roda de conversa que abordou, entre outros temas, a importância de reuniões como as do Núcleo Comunitário de Vau das Flores, que têm sido fundamentais na participação informada das pessoas atingidas no processo de reparação dos danos causados”.
A união que promove resultados
Além de proporcionar integração entre as pessoas da comunidade com a cultura local, a feira foi também um lugar de informação e acesso a serviços públicos de saúde, demanda prioritária, além de cidadania e direitos sociais. Estiveram presentes com estandes de orientações à população o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) , o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e a Unidade Básica de Saúde, que mediu a pressão e a glicemia das pessoas durante a atividade.
As Secretarias de Educação, de Turismo e Cultura e de Saúde estiveram presentes e todos os parceiros colaboraram para essa construção coletiva, incluindo a organização, logística e infraestrutura.
Também esteve no evento o prefeito de Morada Nova de Minas, Dr. Hermano Álvares Francisco de Moura, e o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), representado por José Geraldo, que avalia que é de extrema importância fortalecer as demandas e as iniciativas que partem da comunidade quando ela se mobiliza e se organiza. Para José Geraldo, que percebeu a animação e a alegria das pessoas, “esse tipo de ação é muito importante, pois o trabalho da ATI e do MAB fica facilitado quando a comunidade se une em torno de um objetivo comum, atraindo inclusive a atenção de outras comunidades e do poder público municipal”.
E assim toda a comunidade se envolveu. Teve almoço na escola, quitandas e artesanato produzido na comunidade. Teve criança feliz, brincando e aprendendo. Teve aula coletiva de zumba e apresentação de capoeira.
A Escola Municipal Professor Antônio Ribeiro, parceira da realização do evento e agente fundamental para a comunidade, disponibilizou espaço para realização de oficina de confecção de câmara escura para crianças e jovens. Na escola também foram ofertados os atendimentos de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), como Auriculoterapia, Reiki e Massoterapia.
Fábio Junior da Silva, Secretário de Saúde de Paineiras, ofertou serviços de auriculoterapia e avalia o evento com uma “oportunidade de a população sair do âmbito da escuta em relação aos serviços que são um direito”. Ainda de acordo com o secretário, é muito importante para as comunidades não só saberem que os serviços existem, mas ter efetivo acesso a eles, no sentido físico: “atendemos muita gente e conseguimos vencer a fila até o final do evento. Foi maravilhoso!”
A feira contou com a exibição do documentário La na Morada, produzido e dirigido pela moradense Mônica Ribeiro, e do vídeo-retrato de Dona Maria Pereira (in memorian). No vídeo produzido pelo Guaicuy, Dona Maria resgata as memórias, festas e tradições da comunidade: “festa aqui durava era três dias. Folia aqui saía todo ano, era folia pra todo lado!”.
Sr. Rubens, filho de D. Maria Caieiro, com é conhecida no povoado, esteve na feira da saúde e assistiu orgulhoso ao vídeo da mãe: “fiquei muito feliz ao ver como minha mãe era querida, ao passar o vídeo dela, até as crianças pararam pra ver, foi emocionante! Obrigado!”.
“É muito gratificante para nós do Guaicuy vermos tanta gente da comunidade e de diferentes setores reunidos em prol de uma causa comum e com um resultado tão positivo quanto esse”. Finaliza Carlos Gimenez.