A reunião aconteceu de modo virtual na noite da última quarta-feira (23), e contou com a participação de aproximadamente 25 pessoas atingidas, moradoras das regiões 4 e 5.
O encontro teve como abordagem principal o diálogo sobre o racismo e sua relação com o rompimento. Intitulado “Racismo e o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho – O que tem a ver? Vamos falar sobre isso?”, o encontro marcou a importância de refletir sobre o tema no mês do Novembro Negro.
“A gente entende que o racismo não é um problema só de quem é preto, é de todo mundo, de toda sociedade, então toda sociedade precisa discutir o racismo e hoje nós temos a oportunidade de tratar esse tema”, explica Rafael Vicente, da equipe de Direitos das Pessoas Atingidas, que iniciou a atividade perguntando aos presentes sobre como se identificam/autodeclaram e o que entendem por racismo.
“A discriminação é abominávél, o ser racista eu não consigo nem classificar a pessoa que nutre esse conceito”. Rosângela de Sá (Três Marias).
“Sou parda, portanto negra. E racismo pelo meu entendimento tem a ver com um tipo de violência que separa pessoas brancas das pessoas racializadas, as pessoas que são entendidas como não brancas: indígenas; o racismo contra as pessoas asiáticas e, principalmente, pessoas negras e pardas. E tem a ver com a aparência física sim, quanto mais traços elas têm relacionados à ancestralidade africana, mais violência a sociedade comete contra essas pessoas. O racismo é um tipo de discriminação, mas que está literalmente ligado à uma distinção de raças. É um tipo de violência que está bem estruturado na nossa sociedade, principalmente aqui no Brasil, e é muito forte também nas comunidades atingidas”. Ellen Barros, Cachoeira do Choro (Curvelo).
Dentre os diversos temas discutidos estavam: o que é o racismo ambiental; o que é a Lei de Cotas e qual a importância dela enquanto modelo de reparação histórica; o contexto histórico da construção do Brasil; o que foi o período da escravidão; a racialização dos espaços físicos e de poder; a discriminação e as afetações sentidas pela população negra nos dias atuais.
Confira a gravação na íntegra:
Giovanna Costa, da equipe de Saúde e Assistência Social do Guaicuy, explica que é importante também questionar a responsabilidade de órgãos que podem atuar para que essa realidade seja alterada. “A escravidão acabou, mas em que medida? Qual foi a liberdade conquistada pelas pessoas negras? Se pensarmos em termos de políticas públicas, é importante a gente pensar o papel do Estado nesse contexto, pois historicamente ele tem sido conivente com essa realidade na medida em que se omite, na medida em que não se cria condições de superação dessa realidade”, conta.
O racismo e sua relação com o rompimento
Outro ponto importante na discussão foi entender como o racismo se relaciona com os crimes que envolvem rompimento de barragem. O que ele tem a ver com o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho?
A partir do momento em que os danos sofridos pelas pessoas são potencializados pelo que já existe na sociedade é possível fazer uma relação direta com o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, ocorrido em janeiro de 2019.
“Quem já tinha dificuldade de acesso à saúde antes do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, e agora? Como está a vida dessas pessoas? O desejo do racismo é que as pessoas negras só existam enquanto elas produzem.” Questiona Rafael Vicente, que levanta uma discussão sobre a importância de que as políticas ambientais incluam e pensem na população negra.
“Quando isso não acontece, quando comunidades quilombolas não são consultadas para um empreendimento que pode afetar a sua comunidade estamos falando sim de racismo ambiental”, completa Rafael.
Paula Constante, coordenadora da equipe de Direitos das Pessoas Atingidas do Guaicuy, explica como a mineração e os crimes de rompimento da barragem estão diretamente ligados ao racismo. “Essa reunião é o primeiro passo e ela começa a debater a questão do racismo e ainda que ela seja o primeiro passo, não tem como a gente debater mineração, crime socioambiental desvinculado do racismo. Isso não existe em nenhuma hipótese. Primeiro pensar: quem eram as pessoas que trabalhavam na mineração? Pessoas de cor, pessoas pobres, vulnerabilizadas. Onde a mineração está hoje? Continuamos historicamente sendo afetados pelo racismo”.
Ao final, os participantes puderam fazer uma avaliação do que foi toda a reunião e planejar as discussões para os próximos encontros que poderão acontecer ao longo do próximo ano de 2023. “Vamos continuar na luta que aí vem os nossos filhos, os nossos netos e vamos seguir lutando. É uma causa, uma luta muito grande”, disse Delícia Dias, da comunidade de Sucuriú de Cima (Morada Nova de Minas)
E você? Já conversou sobre racismo com a sua comunidade, amigos e vizinhos?