A primeira edição de 2021 convida para uma reflexão sobre o atual modelo de negócio da mineração e suas trágicas marcas deixadas no patrimônio ambiental, histórico, cultural e humano de Minas Gerais
Estamos atravessando a pior pandemia global em mais de 100 anos, que revirou as nossas vidas pessoais e os modos de vida em sociedade. Ainda sofreremos muito seus impactos, mas não podemos nos deixar abater por eles. É ainda necessário resgatar a força que vem das utopias para denunciar descalabros e apontar novos rumos possíveis.
Nossa contribuição para a necessária reflexão sobre o impacto da Covid-19, cada vez mais assombroso em nosso país, epicentro global da doença, vem do depoimento do coordenador geral do projeto Manuelzão, Marcus Vinícius Polignano. Infelizmente, ele também teve que lutar diretamente contra a doença e compartilha com os leitores desta edição sua visão sobre a batalha da Covid e faz uma homenagem a sua esposa que faleceu, uma entre milhares de vidas perdidas que mais do que números representam histórias e rompimento de laços familiares.
Do luto à luta, convidamos leitoras e leitores a uma olhar aprofundado sobre o atual modelo de negócio da mineração e suas trágicas marcas deixadas nos territórios, comprometendo a vida das pessoas, o futuro de patrimônios naturais e dos nossos rios.
Um exemplo é a história do distrito de Antônio Pereira, no município mineiro de Ouro Preto, onde as pessoas que vivem sob a barragem de Doutor seguem sem acesso claro às informações necessárias sobre o processo de descaracterização do complexo minerário. A instabilidade da estrutura já forçou a remoção de quase 500 moradores do local.
Patrimônios naturais que fazem parte da identidade mineira, como a Serra do Curral e a Serra do Rola-Moça, também estão sob o ataque da mineração e são abordados em matérias nesta edição.
Em Mariana, as pessoas atingidas da região completam cinco anos de batalha, recebendo a notícia de que, pela terceira vez, a Fundação Renova – entidade quase totalmente subjugada aos interesses da Samarco que foi designada para conduzir o processo de reparação – não cumpriu os prazos estabelecidos para a entrega das casas dos moradores do distrito de Bento Rodrigues, soterrado pelo rompimento da barragem de rejeitos sobre o rio Doce em 2015.
No caso do crime sobre o rio Paraopeba, detalhamos os termos do recente acordo judicial firmado entre a Vale e o governo do estado. A construção do acordo foi fortemente questionada pelas pessoas atingidas e, agora, a batalha segue pela sua aplicação correta.
Em várias frentes, é um momento em que, se queremos virar o jogo, é necessário aglutinar forças. Desde o cuidado sanitário coletivo, ampliar as alianças populares para defender nossas serras, até a organização social das pessoas atingidas por barragens para ter seus direitos reparados.
Seja em que lugar for, caso a Justiça seja cega, que o grito plural por direitos, preservação e sustentabilidade se faça escutar.
A Revista Manuelzão 88 pode ser acessada neste link. Boa leitura!