Artigo de Arísio Antonio Fonseca Junior e Gabrielle Luz Campos
O rompimento da barragem da Vale na Mina Córrego do Feijão provocou, desde Brumadinho até Três Marias, impactos, prejuízos e danos coletivos e individuais imensuráveis. Ao longo de toda a bacia do Rio Paraopeba, muita gente já sofreu e continua sofrendo cotidianamente com os resultados da poluição da água natural e com diversas outras consequências perversas que derivam direta ou indiretamente do despejo de milhões de metros cúbicos de rejeitos minerais no Rio. Mas a injustiça ambiental decorrente do desastre não é percebida do mesmo modo pelas pessoas. Há situações em que as formas e as intensidades de sentir e sofrer com o desastre tornam a injustiça mais gritante e mais grave.
Esses são os casos daquelas pessoas que estruturalmente já se encontram em circunstâncias de vulnerabilidade, como, por exemplo, pessoas idosas, pessoas com deficiência, crianças e adolescentes, mulheres, pessoas com alguma doença, povos e comunidades tradicionais, população negra e pessoas em condições de escassez de recursos financeiros. Quando dizemos que a vulnerabilidade de algumas pessoas é relacionada a estruturas – sociais, econômicas e políticas, por exemplo -, queremos dizer que esses grupos são considerados especialmente expostos a danos ou em maior risco de sofrer danos por vários motivos.
Por isso, quando pensamos em grupos vulneráveis, pensamos em pessoas que já estão em alguma circunstância que as coloca em posição de desvantagem em relação a outras pessoas que não enfrentam os mesmos desafios. A falta de água é um problema grave; porém ele se acentua quando a necessidade da água é maior, quando o acesso direto à água ou a oportunidade de obter recursos financeiros para adquiri-la são injustamente menores. Se, como diz o ditado, “água é vida”, para algumas pessoas a vida depende de forma mais urgente da água.
Desse modo, grupos vulneráveis enfrentam a luta pela reparação integral pelos danos causados pelo rompimento da barragem em uma posição de assimetria ainda maior e mais injusta. Nesse processo já extremamente doloroso de buscar que se faça justiça a todos que foram afetados pelo desastre, a falta de acesso à água – do Rio, para regar as plantações e, especialmente, para consumo diário – impacta de forma muito mais grave naquelas pessoas que estrutural e institucionalmente merecem cuidados decorrentes da solidariedade social.