Ao meio-dia de 15 de agosto, um grupo formado por pessoas atingidas pela barragem Doutor, da Vale, iniciou a concentração e seguiu para a “caminhada de fé” da Igreja Nossa Senhora das Mercês até a Gruta de Nossa Senhora da Lapa, no distrito de Antônio Pereira, em Ouro Preto. O movimento, que contou com a presença da apoiadoras e apoiadores, buscou visibilizar os problemas que a população sofre com os impactos da mineração feita por grandes empresas e pedir pela garantia de seus direitos.
Dezenas de pessoas participaram da manifestação, que fez parte do último dia das atividades do Jubileu de Nossa Senhora da Lapa, comemorado entre 31 de julho e 15 de agosto. A organização da caminhada foi feita pelo Movimento Antônio Pereira para Todos, o Coletivo das Mulheres Guerreiras de Antônio Pereira e por lideranças do grupo de garimpeiras e garimpeiros da região.
Entoando cantos religiosos, como “Também sou teu povo, Senhor/E estou nessa estrada/Perdoa se às vezes não creio em mais nada”, quem participava relatou buscar ali renovar as esperanças na reparação dos danos que têm sofrido. Diversas faixas foram carregadas ao longo da caminhada, indicando algumas das pautas prioritárias da população, como o fim da mineração predatória, o respeito à atividade tradicional do garimpo artesanal, o sustento de diversas famílias da região e também mostrando algumas das consequências sociais das remoções ocorridas na chamada Vila Samarco e na sede do distrito.
Participantes também solicitavam a garantia do direito à Assessoria Técnica Independente (ATI). O Instituto Guaicuy foi eleito pela população de Antônio Pereira, em fevereiro de 2021, para exercer essa atividade, mas ainda não teve autorização da Justiça para iniciar os trabalhos.
“Quem não pode com garimpeiro não atiça o formigueiro”
A devoção à Nossa Senhora da Lapa na região completa 300 anos em 2022. As festividades e a visita à gruta são uma das manifestações de fé mais tradicionais da região. De acordo com informações da Arquidiocese de Mariana, a Gruta de Nossa Senhora da Lapa foi descoberta em 1722 por um menino que brincava ao redor da serra do então vilarejo, onde avistou uma luz que cobria uma jovem senhora. Ao relatar o ocorrido, pessoas curiosas foram ao local e encontraram a imagem da Imaculada Conceição sobre a pedra.
Maria Helena Ferreira, do Coletivo das Mulheres Guerreiras de Antônio Pereira e da Frente Mineira de Luta das Atingidas e dos Atingidos pela Mineração, reforça que o distrito de Antônio Pereira é tricentenário, assim como o relato da aparição da Nossa Senhora. Carla Dayane, integrante dos mesmos movimentos, ainda reforça que, sem o garimpo tradicional, famílias não teriam se estabelecido na região. Consequentemente, as tradições religiosas e a pauta do garimpo tradicional, que vem sendo criminalizado por iniciativa da Vale, se relacionam diretamente.