Direito de brincar: como fica sem o rio e a água?

Artur Freixedas Colito
Maria Lúcia Santos Fernandes

Antes era uma “brincaderaiada” que só: Era pular no rio, aprender a nadar e a pescar, passar a tarde nas margens. Era neto de todo canto que vinha conviver com a família nas beiras do rio. Tradições que eram passadas aos filhos, memórias construídas e afetos trocados, e as águas quase sempre como um elemento presente.

Equipamentos de lazer abandonados pela insegurança da qualidade da água

Após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, os rejeitos percorreram todo o Rio Paraopeba e transpuseram parte da Usina do Retiro Baixo até a Represa de Três Marias. Com isso, a desconfiança em relação à contaminação do rio teve efeitos também nas crianças e jovens: muitos deixaram de brincar, também aprenderam a ter medo do rio.

O direito ao lazer é lei, previsto tanto no Estatuto da Criança e do Adolescente quanto no Estatuto da Juventude, e o rio e as águas eram o atrativo da região que permitia às crianças realizarem esse direito. As práticas de lazer e recreação, sob a ótica de estudos científicos, são entendidas como favoráveis ao bom rendimento escolar e trazem benefícios à saúde, em qualquer idade.

Com o rio em suspenso e o agravamento da pandemia, que resultou no fechamento das escolas, as crianças têm passado grande parte do tempo em casa, divididos entre as atividades domésticas, escolares e seu tempo livre. O ambiente não muda, e com menos contato com os amigos, sem poder brincar no rio, pode gerar impactos negativos em seu desenvolvimento psicossocial. Independente do contexto pandêmico, essas crianças e seus familiares enfrentam há mais de dois anos uma modificação na rotina socioambiental. O lazer no rio e às margens são experiências humanas surrupiadas dessas crianças e jovens, vistas como parte da tradição cultural dos povos ribeirinhos. Essas experiências eram capazes não só de serem um processo criativo e de bem estar, como também favoreciam a integração com o meio ambiente na perspectiva de consciência da ecologia integral.

Quem poluiu as águas, e com isso ocasionou esse dano ao lazer das crianças, deve agora reparar as famílias e comunidades, atuando na recuperação do rio, para que todos possam brincar novamente, mas também garantindo enquanto isso que hajam novos equipamentos culturais e de lazer voltados para as crianças e jovens. 

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