O Instituto Guaicuy foi o escolhido pela comunidade de Antônio Pereira, em Ouro Preto, para ser a Assessoria Técnica Independente que vai acompanhar as pessoas atingidas pela Barragem Doutor, da Mina Timbopeba, operada pela mineradora Vale.
A assessoria técnica é um direito das pessoas atingidas para promover um equilíbrio mínimo entre a comunidade e a empresa. O objetivo do instituto é estar ao lado das pessoas, viabilizando a participação informada de todos na luta pela reparação integral dos danos causados.
Com uma equipe técnica qualificada, o Guaicuy vai se dedicar agora a elaborar, junto com a comunidade, o Plano de Trabalho para a região. Essa construção conjunta vai nos ajudar a atender as demandas e necessidades da comunidade, a partir das discussões que já tem acontecido em Antônio Pereira.
Agradecemos a confiança das pessoas atingidas no Instituto Guaicuy. Vamos juntos avançar para que Antônio Pereira possa superar as adversidades trazidas pela mineração!
Meu nome é José Eustáquio Salvador de Oliveira. Sou Técnico de Mineração ETFOP – Escola Técnica Federal de Ouro Preto 1976 e Engenheiro de Minas – Escola de Engenharia da UFMG 1982.
Historicamente o processo de concentração do minério de ferro adotado pela VALE S/A e outras mineradoras nas minas onde as barragens de rejeitos se romperam e correm o risco de se romper nas outras minas interditadas, se denomina Flotação.
É a separação dos rejeitos do minério por aeração de uma mistura com base nas características físico-químicas dos componentes desta mistura.
Na mineração trata-se da separação da parcela mais rica em ferro dos minérios após terem sido britados e finamente moídos. A parcela rica em ferro é separada da parcela pobre em ferro, denominada tecnicamente como rejeito, que é composta predominantemente pela sílica, a alumina e outros contaminantes menores. Neste tratamento industrial o minério passa por um processo que propicia a “flutuação” da parcela mais leve rica em sílica e alumina por aderência às bolhas de ar insufladas na aeração da mistura do minério depois de finamente moído, com os aditivos floculantes e a água. Os Floculantes normalmente utilizados são o Oleato de Sódio (ou outro material oleaginoso) e o Amido (material orgânico). A Lama é gerada em grandes volumes e seca-la a temperaturas adequadas aumentaria muito o custo do processo de produção. Esta mistura recebe o nome de “polpa”. Para efetuar esta operação industrial são utilizados separadores onde se colocam esta polpa. O nome do minério de ferro predominante no Quadrilátero Ferrífero é o Itabirito, composto por camadas sucessivas de minério de ferro intercaladas com as outras camadas ricas em sílica contaminada com alumina e outros componentes minerais menores conforme citado. O concentrado de ferro se deposita no fundo dos separadores e os aditivos utilizados fazem com que a parte menos densa “flutue” por adesão às bolhas de ar que são insufladas nas “bacias” dos Separadores. Estes rejeitos dos separadores são posteriormente depositados nas malfadadas barragens de rejeitos juntamente com a água e os outros aditivos químicos e orgânicos que continuam atuando por tempo indeterminado e mantendo os materiais depositados nas barragens numa condição de “polpa” indefinidamente, atrapalhando a sua decomposição (oxidação) e a sedimentação adequada no fundo das barragens.
Como a maior parte destes aditivos é orgânica e ficam estocados num ambiente sem a presença de oxigênio nunca se degradam. A eventual sedimentação desta polpa expurgaria a água e tornaria os maciços mais estáveis, podendo até mesmo ser revegetados com cobertura de material orgânico, prioritariamente fora dos vales de rios ou cursos d’água, utilizando a metodologia que hoje é implantada na mina S11D da VALE S/A no Pará. Lá o minério não é o Itabirito, é a Hematita pulverulenta, e mesmo assim secam a polpa após a concentração. O processo de secagem do rejeito da concentração do Itabirito poderia ter uma etapa de filtragem e aquecimento da polpa para evaporação da água e queima dos materiais oleaginosos e o amido, ou seja, os materiais orgânicos.
Observem nas fotos tiradas alguns meses após o rompimento das barragens que a lama, após ser exposta ao sol, se sedimenta, se torna um material compactado onde os equipamentos trabalham por cima e a vegetação natural volta a crescer.