As pesquisas realizadas pelo Guaicuy sobre a saúde das pessoas atingidas pelo rompimento da barragem da Vale nas regiões 4 e 5 foram apresentadas no V Encontro Mineiro de Serviços Substitutivos em Saúde Mental
As pesquisas em saúde realizadas pelo Instituto Guaicuy, em parceria com Instituto Olhar, apontaram danos e agravos na saúde mental da população atingida pelo rompimento da barragem da Vale na Mina Córrego Feijão, em Brumadinho.
Com o intuito de divulgar os resultados dessas pesquisas, o Guaicuy esteve presente no V Encontro Mineiro de Serviços Substitutivos em Saúde Mental, realizado em Mariana (MG). Além disso, a intenção foi levar os dados e sensibilizar representantes de instituições renomadas para que elas possam somar na busca das pessoas atingidas pela reparação integral e justa, em todos os 26 municípios prejudicados pelo desastre.
Realizado pelo Conselho de Psicologia e pela Prefeitura Municipal de Mariana, o evento foi realizado entre os dias 22 e 24 de setembro, e contou com a participação de 300 pessoas. Estiveram presentes profissionais e estudantes da saúde, usuárias/os dos serviços de saúde mental do Sistema Único de Saúde (SUS), movimentos sociais, ONGs, representantes dos conselhos de classe federal e estadual de Psicologia, além de pessoas atingidas pela barragem de Antônio Pereira (MG). O Instituto Guaicuy apresentou os resultados das suas pesquisas em saúde mental no segundo dia de encontro, 23 de setembro. Os dados se referem ao trabalho de Assessoria Técnica Independente (ATI) qu o instituto presta às comunidades atingidas pelo rompimento da barragem da Vale nos municípios de Pompéu e Curvelo (Região 4); e Felixlândia, Três Marias, São Gonçalo do Abaeté, Martinho Campos, Morada Nova de Minas, Biquinhas, Paineiras e Abaeté (Região 5).
O Guaicuy fez parte da mesa de debates sobre saúde mental das pessoas atingidas por barragens, representado por Paula Mota, da Coordenação de Saúde e Assistência Social do Guaicuy (SAS), e Marcus Lepesqueur, da Coordenação de Ciências Sociais. Também participou da mesa Maria Núbia Cruz, representante do Projeto Manuelzão.
Pesquisa Saúde e Pesquisa Domiciliar
Além da Pesquisa Saúde, o Guaicuy apresentou também os resultados da Pesquisa Domiciliar, ambas realizadas nas regiões 4 e 5.
Os dados da Pesquisa Saúde, de junho de 2021 e fevereiro de 2022, revelam, por exemplo, que houve um aumento do número de atendimentos relacionados a transtornos mentais nos seguintes municípios: Três Marias (97%), Felixlândia (86%), Pompéu (23%), Curvelo (22%), São Gonçalo do Abaeté (55%), Martinho Campos (41%).
Além disso, a Pesquisa identificou outros sintomas que podem estar relacionados ao rompimento da barragem da Vale, tais como: alterações no estado de ânimo (tristeza, angústia, ansiedade e outros); alterações no sono; mudanças no corpo/respiração; surgimento de doenças psicossomáticas e deram início ou aumento de dose de medicamentos psicotrópicos.
Já de acordo com a Pesquisa Domiciliar, mais da metade das pessoas entrevistadas na Região 4 (50,4%) se enquadra na categoria de “severamente afetado”, com chances de apresentar ou desenvolver sintomas psicopatológicos relacionados ao estresse; na Região 5 esse percentual é de 32,6%.
Paula Mota, coordenadora da SAS, explica a importância da participação do Guaicuy no V Encontro Mineiro de Serviços Substitutivos em Saúde Mental: “Foi um momento rico onde percebemos a falta de conhecimento sobre danos dos rompimentos de barragens em municípios fora dos epicentros Mariana e Brumadinho. Bem como, percebemos como os recursos, apoio de gestão estadual e federal e atuação de ONGs fizeram a diferença nos serviços públicos de saúde às pessoas atingidas nos dois epicentros”, disse.
A coordenadora destaca ainda que foi possível notar que os dados apresentados despertaram o interesse dos participantes do encontro sobre os demais municípios atingidos, além de terem provocado uma sensibilização de representantes de entidades importantes para somar na busca pela reparação dos danos à saúde das pessoas atingidas pela mineração.
O evento foi encerrado com a perspectiva de que novas conversas sobre o tema sejam realizadas entre representantes dos Conselhos de Psicologia, gestores e profissionais de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), com a finalidade de buscar melhoria na oferta de serviços públicos de saúde para as pessoas atingidas por barragens nos municípios atingidos.
