O 5º Fórum das Pessoas e Comunidades Atingidas da região 5, realizado na última quarta-feira (28), teve como objetivo dialogar sobre os resultados das análises de peixes.
Organizado pelas coordenações de Pesquisas Ambientais e de Extensão Técnica, o encontro aconteceu na última quarta-feira (28), de forma virtual, e teve como proposta apresentar e abrir um espaço para debate sobre os resultados das análises de peixes, realizadas a partir da coleta desses animais no trecho do rio Paraopeba, logo abaixo da represa de Retiro Baixo, na represa de Três Marias e no trecho do rio São Francisco que atravessa Três Marias e São Gonçalo do Abaeté.
O encontro contou com a presença de mais de 120 pessoas atingidas e, em sua 5ª edição, contribuiu como mais uma das atividades de fortalecimento da participação ativa e informada das comunidades atingidas, uma das missões do Guaicuy enquanto Assessoria Técnica Independente das regiões 4 e 5. Nos espaços dos fóruns, são apresentados resultados das pesquisas realizadas pelo Instituto Guaicuy, além de resolução de dúvidas, orientações e atualização sobre questões que envolvem a reparação integral.
No 5º Fórum, a proposta de apresentar os resultados das análises de peixes parte também de uma demanda das comunidades atingidas. A insegurança em relação ao consumo dos peixes é fruto da convivência com as consequências do rompimento da barragem da Vale, ocorrido em janeiro de 2019.
Juliana Leal, moradora de São Geraldo do Salto, comentou as mudanças no cotidiano da pesca e consumo de peixes na região. “Comíamos muito peixe na minha casa, mas depois do rompimento, paramos de consumir. É uma carne mais em conta, mas por esse medo, deixamos de comer e isso é um prejuízo pra gente que compra e, principalmente, para quem vende. Precisamos tomar uma atitude para solucionar essa situação. O peixe vem fazendo muita falta no nosso dia a dia.”
Por isso, o Instituto Guaicuy realizou, durante os meses de março de 2021 a maio de 2022, as coletas no rio Paraopeba, no trecho logo abaixo da represa de Retiro Baixo, na represa de Três Marias e no trecho do rio São Francisco que atravessa Três Marias e São Gonçalo do Abaeté.
Entenda as análises de peixes apresentadas no 5º Fórum da região 5
Em setembro de 2020, o Guaicuy assinou os primeiros contratos para início de análise de poços e cisternas: “A possibilidade de realizar as análises é uma vitória das pessoas atingidas, já que os impactos do rompimento são sempre questionados. As análises também são contestadas por diversos atores, principalmente porque todos sabem que o Guaicuy está ao lado das pessoas atingidas. Por isso, é uma conquista conseguirmos realizar esses estudos e trazer os resultados para vocês”, afirma Bernardo Beirão, coordenador de Pesquisas Ambientais do Guaicy.
Os pontos de coleta foram escolhidos de acordo com observações técnicas e, também, com o auxílio das pessoas atingidas que solicitaram a realização de estudos em determinados locais. Para as coletas dos peixes, o Instituto utilizou métodos diversificados, como rede de espera, rede de arrasto, tarrafa e anzol. “Quanto mais diversificado o método, mais fácil de conseguirmos capturar um maior número de espécies, ampliando as possibilidades de resultados e diminuindo o risco de não termos um bom cenário de espécies estudadas”, explica.
Com isso, foram analisadas 1.209 amostras, entre elas 709 de filé de peixe (músculo) e 500 de fígado. Os metais estudados foram alumínio, arsênio, bário, cádmio, chumbo, cobre, cromo, ferro, manganês, mercúrio, níquel, selênio e zinco. O destaque é para os elementos alumínio, ferro e manganês, essenciais para a saúde do nosso organismo. Por outro lado, quando em quantidades altas, podem ter comportamento tóxico, além de serem compostos presentes na composição de rejeitos da barragem da Vale que rompeu em Brumadinho, em janeiro de 2019.
Foram consideradas alterações a presença de arsênio, cádmio, chumbo e mercúrio. Na análise de fígado, a cada 10 analisados, 8 apresentaram algum elemento acima dos limites da legislação ambiental. Nos estudos dos filés, a cada 10 analisados, 3 apresentaram algum elemento químico acima dos limites da legislação.
Diante das alterações identificadas, Beirão explicou que os resultados podem indicar uma presença recente desses metais nos peixes: “Quando você tem uma quantidade maior desses elementos no fígado e menor no filé, isso pode indicar uma presença mais recente desses contaminantes na água. Se o rompimento disponibilizou uma série de elementos que não eram para estar no meio ambiente, esse fato pode contribuir para os resultados alterados”.
As análises de peixes foram realizadas por laboratórios selecionados pelo Instituto Guaicuy, certificados pelo INMETRO, e que não têm vínculos com a mineradora Vale: a Ictiológica Consultoria Ambiental, responsável pela coleta e preparação de material para envio ao labotarorio; e a Tommasi Analitica LTDA, laboratório responsável pelas análises.
Análises de peixes: ações do Guaicuy para apoiar as pessoas atingidas
O Guaicuy não pode estimar o risco dos resultados das análises de peixes para a saúde humana, uma vez que é essencial a realização de uma série de estudos mais aprofundados, observando também as características das comunidades (percentual de crianças, idosos, pessoas com problemas de saúde, por exemplo), e a exposição (a frequência e o tipo de contato com os peixes).
Para apoiar as comunidades atingidas, em agosto de 2022, o Guaicuy se reuniu com representantes das Instituições de Justiça (IJs), do Comitê Pró-Brumadinho e do Estado de Minas Gerais, informando sobre os resultados das análises ambientais. Também enviou recomendações aos órgãos públicos:
- Solicitação que se ateste e oriente a população sobre a segurança para o consumo dos peixes;
- Pela responsabilização e tomada de decisão dos órgãos e instituições públicas;
- Desenvolvimento de políticas públicas específicas para atendimento aos pescadores da região;
- Acolhimento de demandas de saúde.
- Avaliação efetiva do risco à saúde humana;
- Desenvolvimento e continuidade de projetos e ações de monitoramento e reparação ambiental.
5º Fórum da região 5: dúvidas das pessoas atingidas
Pessoa atingida: Podemos comer os peixes pescados na região?
Guaicuy: O que sabemos até agora é que a pesca na represa de Três Marias não está proibida pelos órgãos estaduais, bem como não há recomendações dos órgãos do Estado de Minas Gerais sobre o consumo de peixes na região.
É importante frisar que os resultados que temos não são suficientes para fazer qualquer afirmação ou indicação. Além disso, o Instituto Guaicuy não tem atribuição de permitir ou restringir usos ou consumo.
Pessoa atingida: Os resultados serão compartilhados nos grupos das pessoas atingidas?
Guaicuy: Os resultados em breve estarão disponíveis e pertencem às pessoas atingidas.
Pessoa atingida: Se não é possível afirmar que existe contaminação, o que é possível fazer?
Guaicuy: Iremos buscar caminhos junto às pessoas atingidas, em relação ao que fazer com esses resultados. Este espaço de diálogo é para apresentar os resultados para as pessoas atingidas, fortalecer a participação informada e compreender quais serão as ações junto às Instituições de Justiça, órgãos de saúde e ao Estado de Minas Gerais. Entendemos que esses resultados devem ser usados como instrumento de luta em busca da reparação integral.
Assista ao vídeo completo sobre o 5º Fórum Regional das Pessoas e Comunidades da região 5: