Protocolo dos indígenas kaxixó busca garantir escuta à comunidade sobre processos de reparação dos danos

Documento é instrumento de luta para impedir que sejam tomadas decisões alheias ou contrárias aos interesses da comunidade indígena localizada em Martinho Campos (região 5)

O Povo Kaxixó lançou, no mês de abril, seu Protocolo de Consulta Prévia. Com o documento, o Povo Kaxixó deseja reforçar seu poder de decisão sobre os projetos que impactam suas comunidades e seu modo de vida. 

Em publicação no Instagram, representantes do Povo Kaxixó afirmam que a comunidade quer ser consultada antes de qualquer decisão que diga respeito à ela. “Não aceitamos que seja colocado em curso qualquer projeto que envolva nossas águas e território sem consulta prévia. Nenhum órgão poderá se posicionar sobre nosso território sem antes nos consultar”, diz a nota. 

“Não queremos mais que o governo (federal, estadual e municipal), proprietários de terras, fazendeiros e latifundiários tomem decisões sem nos ouvir e negociar (…) Por diversas vezes fomos atropelados quanto aos abusos e à destruição do nosso bioma Cerrado. Estamos cansados de ver a terra sangrar e o país não nos respeitarmos quanto às nossas decisões”, reforça o Povo Kaxixó em seu comunicado. 

Povo Kaxixó de Martinho Campos MG

Luta pela reparação integral

Para Gabrielle Luz Campos e Ana Carolina Januário Silva, da equipe de Direitos das Pessoas Atingidas do Instituto Guaicuy, o Protocolo de Consulta do Povo Kaxixó é um instrumento fundamental na luta da comunidade. “É importante, também, em relação ao processo de reparação integral, no qual o Instituto Guaicuy os assessora, considerando que o protocolo garante a participação informada e efetiva no processo”, avaliam. 

O que prevê o Protocolo de Consulta Prévia do Povo Kaxixó?

O documento prevê que o Povo Kaxixó deve:

  • Ser consultado sobre todos os assuntos relacionados à sua cultura e seu território.
  • Ser consultado sobre políticas indígenas.
  • Consultar todas as aldeias (Capão do Zezinho, Fundinho e Pindaíba) e, em especial, o cacique, o vice-cacique, as lideranças das aldeias e a Associação da Comunidade Indígena Kaxixó (ACIK).
  • Tomar as decisões de maneira coletiva, buscando o consenso, em reuniões realizadas preferencialmente na aldeia Capão do Zezinho.

O Povo Kaxixó ainda reforça:

  • Que Ministério Público Federal (MPF), Fundação Nacional do Índio (Funai) e outros órgãos informem cacique, vice-cacique e lideranças sobre o assunto da consulta e não aprovem quaisquer projetos antes de ouvir o Povo Kaxixó.
  • Que as decisões tomadas pela comunidade sejam respeitadas e que não se escondam informações antes das consultas. 
  • Que todas as fiscalizações ambientais realizadas no território sejam previamente avisadas ao cacique, ao vice-cacique e à associação. 
  • Que o Povo Kaxixó tenha direito a uma porcentagem sobre qualquer recurso retirado de seu território e que essa porcentagem seja discutida previamente com a comunidade.

O que é a Consulta Prévia?

A Consulta Prévia Informada e De Boa Fé é um direito de indígenas, quilombolas e povos e comunidades tradicionais, assegurado pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e vigente no Brasil desde o ano de 2004, quando foi promulgado e ganhou força de lei. É instrumento que traz avanços no reconhecimento dos direitos coletivos nos aspectos econômicos, sociais e culturais, além de garantir que se respeite o tempo de decisão e o modo de vida dos povos tradicionais. 

Já o Protocolo de Consulta Prévia é um documento normativo, por meio do qual a comunidade expressa a sua voz, dita as regras de como quer ser consultada, descreve suas instituições representativas e formas tradicionais de decisão. Desse modo, os protocolos consagram o direito à autodeterminação e o respeito ao tempo e ao modo de vida dos povos tradicionais. 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui